quarta-feira, 21 de maio de 2014

PATROCINADORES DO CAOS EM ANO ELEITORAL

Jilmar Tatto, secretário de Haddad, resolve jogar o caos da cidade nas costas da PM. Secretaria de Segurança responde. Então vamos lembrar quem é que tem, digamos, laços antigos com o setor de transportes

Jilmar Tatto, o secretário de Transportes da cidade de São Paulo, é um homem historicamente ligado ao setor. Ligado até demais. E já circularam informações de que essa ligação pode não ser exatamente virtuosa. Já chego lá. Nesta terça, diante do caos promovido por motoristas e cobradores em greve, que fecharam 15 terminais na cidade, levando a mobilidade ao colapso, ele resolveu achar um culpado. Sabem quem? A PM!!! Numa de suas declarações infelizes, acusou “passividade” da corporação. O que será que Tatto queria? Que os policiais militares assumissem pessoalmente a condução dos ônibus?
Afirmou o secretário:
“Acionamos a Polícia Militar para que ela cumpra uma decisão judicial de que, todas as vezes que tiver obstrução do ônibus, por se tratar de um serviço essencial, que ela possa agir. O que não pode é um serviço essencial ser paralisado sem avisar o usuário. De manhã, todos foram trabalhar usando o transporte público, e o usuário da cidade de São Paulo é muito dependente do transporte sobre pneus, e, durante o dia, foram surpreendidos sem ônibus para voltar para casa.”
A secretaria de Segurança Pública emitiu uma nota oficial em que responde com a devida dureza às críticas de Tatto. Leiam a íntegra. Volto em seguida.
A liminar a que se refere o secretário de Transportes do Município de São Paulo Jilmar Tatto foi suspensa pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, na última sexta-feira (16/05). Ainda que não tivesse sido, o secretário deveria saber que não interessa à opinião pública jogar sobre os cidadãos ou sobre outras esferas de governo uma responsabilidade que lhe é exclusiva. Suas declarações sobre a ação da polícia estadual em uma greve municipal são um escárnio. Não existe autoridade com maior proximidade com a complexa interação entre os transportes coletivos convencional e alternativo do que o Sr. Secretário Jilmar Tatto. Basta ao secretário, considerando sua experiência no assunto, fazer o seu trabalho, que é o de negociar. A Polícia Militar de São Paulo trabalha em conjunto com o prefeito Fernando Haddad, com quem tem uma excelente relação, sempre que acionada e dentro de suas atribuições.
Se ainda valesse, a liminar mencionada pelo secretário Jilmar Tatto não tinha como objeto obrigar policiais, que nem habilitação compatível para dirigir ônibus possuem, a conduzir os coletivos para desobstruir as vias. Na ocasião, a liminar foi concedida para que as manifestações de rua não obstruíssem a circulação dos ônibus. A solução legal, óbvia e legítima tem que vir da autoridade de trânsito — do qual o secretário Jilmar Tatto é chefe —, por meio de guinchos e motoristas ou servidores que possam remover os ônibus. A Polícia Militar reforçou o policiamento nos terminais e locais de grande concentração de pessoas, inclusive para garantir o trabalho de remoção.
Secretaria da Segurança Pública
Retomo
Resposta muito bem dada, não é? Afinal, terei eu de lembrar que Jilmar Tatto tem dois aliados importantes que são, digamos assim, ligados à área de transporte? Um é o deputado estadual Luiz Moura, um ex-presidiário que não cumpriu os 12 anos a que estava condenado porque se tornou um fugitivo. Hoje, é deputado petista. Outro é Senival Moura, vereador, também do partido, irmão de Luiz.
O agora deputado estadual se fez líder dos perueiros, uma área que a família Tatto conhece muito bem. Sempre me lembro de uma reportagem publicada pela VEJA em junho de 2006. Segue em azul. E paro por aqui. Por enquanto. Suspeito, no entanto, que esse assunto ainda vai render.
*
Sempre se soube que uma das principais fontes de renda do PCC, organização criminosa formada por presos e ex-presos das cadeias paulistas, era o mercado de lotações – ou de peruas, como são genericamente chamados os microônibus e as vans que circulam por São Paulo como uma alternativa ao transporte público coletivo. O PCC não só domina parte das linhas do sistema como também extorque cooperativas que, sem ligação com ele, operam no setor. Há três semanas, a polícia prendeu Luiz Carlos Efigênio Pacheco, presidente da Cooper Pam, uma das principais cooperativas de perueiros da capital paulista, suspeita de ligação com a organização criminosa. Conhecido como “Pandora”, o perueiro é acusado de ter financiado, com dinheiro de lotações, uma tentativa frustrada de resgate de preso de uma cadeia de Santo André (região do ABC paulista), em março passado. Detido, ele negou pertencer ao crime organizado, mas admitiu a infiltração do PCC no setor perueiro e disse que foi por ordem de Jilmar Tatto, ex-secretário de Transportes da prefeita Marta Suplicy, que sua cooperativa incorporou integrantes da organização criminosa. As duas afirmações, graves, constam do depoimento que Pandora deu formalmente à polícia. Uma terceira informação, porém, ainda mais grave, ficou de fora do inquérito. Ela foi dada por Pandora ao delegado Marcelo Fortunato, que o prendeu. Segundo disse o presidente da Cooper Pam, o ex-secretário de Marta recebeu 500.000 reais para favorecer um grupo de perueiros ligados ao PCC no processo de licitação para a exploração da região sul da capital. Tatto, candidato a deputado federal pelo PT, teve a prisão preventiva pedida pelo delegado, mas a Justiça ainda não apreciou o pedido. Pandora foi solto na quinta-feira (15), depois de passar dez dias preso.
Ele e Jilmar Tatto são velhos amigos – conhecem-se desde a infância. O perueiro, que nasceu em uma favela do bairro de Capela do Socorro (região sul da capital), costumava jogar bola com Tatto e seus irmãos, que moravam no mesmo bairro. Adultos, os dois mantiveram a amizade. A nomeação de Tatto como secretário de Transportes da gestão Marta coincidiu com a ascensão de Pandora no mercado perueiro. (...)
Até a gestão de Celso Pitta, os perueiros rodavam clandestinamente em São Paulo. Foram legalizados na administração de Marta Suplicy. 

(continua)
Encerro
Se Tatto perdeu o contato com a área de transportes, talvez possa pedir ajuda aos irmãos Moura. Quem sabe eles conheçam uma turma de bambas que possa contribuir para pôr fim à crise. 
Por Reinaldo Azevedo

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