sexta-feira, 2 de maio de 2014

CÉU SEM BRIGADEIRO

Sandro Vaia

Um velho bordão muito popular nas redações de antigamente era “há algo no ar e não são aviões de carreira”.

Isso era vaticínio ou prenúncio, ou puro palpite, quando não teoria conspiratória, indicando a iminência de um fato não corriqueiro que estaria prestes a ocorrer.

Era uma senha para manter as redações em estado de alerta — ou de orelha em pé, em jargão mais popular.

Naqueles idos tempos, os aviões se moviam entre Jacareacanga a Aragarças transportando oficiais golpistas que sonhavam em derrubar governos constitucionais, e muitas vezes terminavam em rendições patéticas, sem apoio nem dos mecânicos das aeronaves, quanto mais de seus superiores, e que dirá então da sociedade, que praticamente ignorava esses lunáticos de plantão.

Se alguém disser hoje que há algo no ar e não são aviões de carreira, pode ser apenas sinônimo de novidade, de alguma coisa que parece estar andando fora do trilho da lógica pré-estalecebida ou do senso comum.

Podem ser sintomas disso a fenomenal confusão que o governo armou em torno das explicações a respeito do estranhíssimo negócio da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, a respeito do qual já ouvimos de tudo, em todos os momentos, em todos os fóruns, e em mais de 50 tons de cinza.

Pronunciamento de 1º de maio

Um mau negócio, que poderia ter sido um bom negócio, mas que não chegou a ser propriamente bom, embora parecesse e pudesse ser bom, naquela época, ainda que não tenha sido totalmente ruim, no qual o dinheiro investido não está de todo perdido, porque ainda pode ser recuperado, desde que apareça uma alma generosa que esteja disposta a pagar 1,3 bi por algo que vale uns 180 milhões. Claro que você não entendeu, e quem tentou explicar entendeu menos ainda.

Uma CPI para esclarecer isso, segundo a base governista, seria aceitável — mesmo porque tem o apoio regimental para isso — desde que se investigue junto tudo o que se relacione a qualquer dúvida que persista desde a criação do Universo. O STF mandou restabelecer a chamada regra constitucional, mas nem por isso o avião pousou tranquilamente.

O fato é que em consequência de todos esses imbróglios, somados ao desequilíbrio das contas públicas, ao controle descontrolado da inflação e a toda a desordem administrativa que se acumula, o balão da presidente perde gás.

Alguns aliados pedem socorro ao Criador em suas duas versões: a divina e a terrena, cuja rempli-de-soi-même, como um clássico ponta direita ciscador, faz que vai mas não vai.

No pronunciamento republicano em rede nacional em comemoração ao Dia do Trabalho e à sua candidatura, a presidente abriu seu saco de bondades — aumentou a Bolsa Família em 10% e corrigiu a tabela do Imposto de Renda para o ano que vem — com a mesma expressão de alegria com que alguém toma uma injeção contra a gripe.

Há algo no ar e não é céu de brigadeiro.

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