domingo, 20 de janeiro de 2013

AO TRABALHO, "COLEGAS"

No Coturno

Existe uma competente cobertura de imprensa em Brasília. Os melhores repórteres políticos do Brasil, obviamente, estão na cidade. Para este grupo seleto de profissionais não há segredos.

Todo mundo sabia da namorada do Lula, por exemplo. Por que não divulgaram?
Ora, porque não sabiam que a mesma estava envolvida em falcatruas maiores do que colocar almofadas com a cara do ex-presidente nos sofás da recepção.

Agora assistimos a um festival de denúncias contra Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Alves (PMDB-RN), ambos virtualmente eleitos para a presidência do Senado e da Câmara.

Denúncias vêm à tona, mas nada que estes jornalistas não saibam há anos. Renan e Alves têm um suspeitíssimo currículo e vários envolvimentos com denúncias de uso da máquina e de recursos públicos. Por que não foram denunciados antes?

Agora, na última hora e na falta de assunto, espoucam denúncias hilárias. Exemplo? Registram que Alves dobrou o patrimônio nos últimos anos, tendo declarado, inclusive,  "uma fazenda de 32 hectares". Ora, isto é a metade da média nacional de um lote de assentamento de reforma agrária.

Já contra Renan, informam que teria pago verbas indenizatórias a assessores, como se praticamente todos os senadores não fizessem o mesmo. O que acontece? Ninguém dá a mínima para as denúncias, pois elas são mais do mesmo. Ambos serão eleitos com larga margem de votos.

Ouvi, esta semana, de um importante jornalista, que Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, é um fenômeno eleitoral apenas para a imprensa de Brasília. Não existe nem mesmo no Nordeste, a não ser no estado que dirige e onde seus aliados são donos dos principais veículos de comunicação. Isto sim, é notícia. Isto sim, é matéria. A imprensa de política de Brasília deveria trabalhar mais.

Ontem, Nariz Gelado lembrava desta entrevista de Ricardo Noblat, um dos mais importantes jornalistas políticos do país, concedida à revista Playboy, em outubro de 2005...Acho que ela ilustra muito bem a diferença entre o saber e o divulgar uma noticia.

Playboy: Você já sabia do Delúbio?

Noblat: Comecei a ouvir em meados de 2003 que o Delúbio estava cobrando comissão de fornecedor de governo. Era o que se comentava no meio publicitário, e como eu tenho amigos na área...

E por que não publicou?

Porque só contavam se eu não publicasse. E jornalista não pode viver sem ser capaz de ouvir histórias, mesmo sob essa condição. Muitas vezes essas histórias vão ser úteis mais adiante. Ou vão lhe abrir os olhos e você vai prestar atenção em coisas em que antes não prestava. Logo depois que estourou o caso do Waldomiro, o José Genoíno me ligou dizendo que sabia que a Veja estava apurando um perfil do Delúbio e perguntando por que a imprensa estava interessada nele. Eu respondi que o cara estava por aí cobrando comissão de fornecedor adoidado, que eu tinha ouvido muito isso. E avisei a ele: "Tira o Delúbio e o Silvinho de circulação, porque eles vão se complicar".
(...)

As fontes de notícias em Brasília, sempre disputadas, já perceberam a importância do blog?

Meu blog aconteceu para os políticos por causa de um furo que dei logo no início. Lula estava reunido com vários ministros discutindo a expulsão do correspondente do New York Times por causa da matéria sobre a relação do presidente com bebida. Nesse momento entra um assessor do Lula com a Constituição na mão: "Olha, presidente, está na Constituição, não pode expulsar o cara não". A resposta foi: "Foda-se a Constituição".
A maioria dos jornais tremeria, piscaria dez vezes antes de publicar que o presidente disse "Foda-se a Constituição". Eu publiquei exatamente assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário