quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O QUE O BRASILEIRO ESTÁ FAZENDO COM A DEMOCRACIA

Por que Renan deve ser o presidente do Senado pela segunda vez? Ou: Um homem e as NOSSAS circunstâncias

Por que Renan Calheiros (AL), apesar de sua biografia — e temo que possa ser “por causa dela” —, deve ser o presidente do Senado pela segunda vez? 

Uma coisa se pode dizer com absoluta certeza: essa cadeira ele não vai roubar de ninguém. Se chegar ao posto, mesmo depois de ter sido obrigado a renunciar a ele, não será como um usurpador, senão, isto sim, como um ungido pela maioria — que, então, merece tê-lo naquele lugar. E essa maioria também não foi nomeada por um ditador; não é constituída pelos famigerados “senadores biônicos” do Pacote de Abril, de Geisel (quem ainda se lembra?). Nada disso! Os eleitores de Renan foram eleitos por Sua Majestade o povo. 

Nas democracias, no que concerne à política, é raro que o povo tenha menos do que aquilo que merece, entendem?
Eu já disse mais de uma vez o que penso de Renan Calheiros. Também expliquei por que as oposições, o PSDB em particular, só têm uma coisa decente a fazer  — votar em Pedro Taques (PDT-MT), mesmo para perder. Parece que os tucanos podem ir por esse caminho; podem votar em Taques, mas notem que o partido não move uma palha para criar, assim, uma espécie de movimento. É que, se Renan vencer, também não é tão mau assim. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) o convidou a retirar a sua candidatura. Renan agradeceu, mas não aceitou o convite…
A verdade dramática, meus caros, é que, independentemente do que achemos de Renan e do que sabemos de sua trajetória, ele não é um marginal na Casa. Ao contrário: é uma de suas estrelas mais reluzentes. 

Isso fala um tanto sobre o Senado, mas também sobre a política e as escolhas populares, ora essa! 

Jaqueira não dá maçãs. E Renan está aí não é de hoje, certo?
(...)
Muitos dos analisas que ficam horrorizados com Renan — e por bons motivos — são, por exemplo, críticos azedos dos republicanos dos EUA, que estariam interessados em impedir Santo Barack Obama de governar. Pois é… Por lá, os Renans e Sarneys não rendem frutos porque a política é pão, pão, pasta de amendoim, pasta de amendoim. Por aqui, temos a conciliação como um vício, e a clareza é considerada coisa de gente de maus bofes. 

No Brasil, a raposa política que sempre se dá bem, que sempre está no poder, que sempre está por cima é vista como expressão da sagacidade.
Vejam o tratamento que certa imprensa tem dispensado a José Serra, por exemplo. Há quem goste dele, há quem não goste — e não há novidade nisso; assim é com todo mundo. Mas não se pode dizer que o homem ora está lá, ora está cá. Ao contrário: certa fama de intransigência o acompanha. Perdeu e ganhou eleições. Quando perde, fica fora do poder. Quando ganha, ele o exerce. Nunca pôde ser um Sarney — que é governo desde a era a Juscelino — ou mesmo um Renan Calheiros. 

Dia desses, uma charge bucéfala num jornal o caracterizava entre as coisas fora de moda. A convicção caiu da moda. Não é coisa de espertos.
Eu posso, sim — e mais alguns tantos, mas não muitos — , lastimar que Renan chegue à Presidência do Senado pela segunda vez porque, em política, eu acho que a ausência de confronto e a permanente conciliação criam o ambiente ideal para a prosperidade dos maus representantes do povo. Eu gosto de clareza e de gente que ou é palmeirense ou é corintiana; ou é vascaína ou é flamenguista. 
(...)
Eu lamento a possibilidade, quase a certeza, de que Renan chegue à Presidência do Senado pela segunda vez. Mas ele não surge do nada. É a expressão do que os brasileiros fizeram até aqui com a sua democracia.
Por Reinaldo Azevedo

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