segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A FICHA ESTÁ CAINDO

A crença é que o Banco Central não mira mais o centro da meta da inflação e aceita uma alta de preços maior para não prejudicar o crescimento. Controla fortemente o câmbio e, para completar, a equipe econômica faz maquiagens nas contas públicas. Essa criatividade do Ministério da Fazenda está na mira dos especialistas.

Para o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, o tripé está em baixa. O governo não deixa claro qual é a meta de inflação que realmente persegue. Diz que seus sucessores esperam chegar à meta “quando Deus der bom tempo”. Além disso, segundo Loyola, o câmbio é usado como instrumento de competitividade. Ele admite que nunca houve uma flutuação pura, ou seja, o dólar nunca foi realmente livre. No entanto, ataca o intervencionismo atual. E reprova a falta de transparência das contas públicas. O economista resume o “novo mix de política econômica” a juro baixo e câmbio alto:— Essa política não gera equilíbrio sustentável — diz o economista. — Num ou noutro ano pode funcionar, mas em outros anos pode trazer desequilíbrios como a inflação de volta. 

Uma novidade que incitou acusações mais diversas foi a proposta de alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal. O PT ousou tocar num dogma do governo anterior aclamado pelos economistas. No apagar das luzes de 2012, a equipe econômica driblou o Tribunal de Contas da União (TCU) e enviou projeto ao Congresso para usar o que arrecadar a mais para dar benefícios fiscais. O ministro da Fazenda interino, Nelson Barbosa, diz que foi só um aperfeiçoamento. — É uma crítica de uma proposta que não foi lida, sinceramente.

Até um dos gurus da equipe econômica, o professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, concorda que o governo tem errado a mão em medidas na área fiscal. Para ele, não era preciso tanto malabarismo. Seria mais honesto admitir que, nos anos mais difíceis, não é possível cumprir a meta de economia para pagar juros da dívida. O acadêmico considera que o país tem uma boa situação fiscal e exorta os economistas que insistem em discutir superávit primário e se esquecem de questões estruturais: as críticas são exageradas, porque ninguém vai abandonar a política de combate à inflação.

—Tivemos um processo de desindustrialização e o foco das discussões, agora, tem de ser investimento — diz o economista. Belluzzo argumenta que o Brasil perde oportunidades de embarcar em revoluções tecnológicas. Com isso, o país dá adeus à chance de tomar mercado dos protagonistas da economia mundial que estão em crise. E continua a depender de produtos básicos.

De acordo com um dos mais ácidos críticos do atual governo, o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, não há disposição de investir justamente pela falta de regras claras. A seu ver, a atual equipe econômica não consegue fazer um diagnóstico claro e tenta resolver o complexo problema da competitividade com pílulas de incentivos. O economista traça um cenário dramático para os próximos anos: pouco crescimento e inflação alta. Para ele, o maior pecado petista no campo econômico foi não ter feito reformas como a tributária e a trabalhista. — A gente surfou na onda do crescimento mundial e, quando começamos a crescer, nos esquecemos das reformas — constata Schwartsman.

— E produtividade não é uma coisa que se resolve de um ano para o outro. — É uma década perdida, já usando um chavão. Até regredimos. As agências reguladoras se tornaram feudos de partidos políticos — completa Loyola.

O economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES no governo Lula demitido do cargo em 2004, concorda que reformas poderiam ser feitas e que as perspectivas poderiam ser melhores daqui para frente.

Segundo ele, o modelo de crescimento brasileiro baseado no consumo se esgotou, porque as famílias se superendividaram para financiar bens, como automóveis, e isso não veio acompanhado de melhorias na infraestrutura.
(...)

(Fonte: O Globo)

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