terça-feira, 15 de janeiro de 2013

ECONOMIA BRASILEIRA: CREDIBILIDADE AMEAÇADA

Raul Velloso, O Globo

Credibilidade é tudo em economia. A nossa foi gradualmente dilapidada ao longo de várias “décadas perdidas”, e agora estamos diante de uma nova ameaça. Enfrentamos a crise da dívida de 1982 praticamente sem dólares no caixa, deixamos a situação social se deteriorar, e finalmente chegamos à hiperinflação. Até bem pouco, assim, a percepção externa era de que o Brasil estava preso num labirinto, sem chances de encontrar uma saída racional.

De 1995 a 2008, o quadro mudou radicalmente, pois domamos a inflação instituindo o tripé metas de inflação/superávits fiscais altos/câmbio flutuante e passando a controlar a dívida pública; reduzimos consideravelmente os índices de pobreza; e, sem recursos públicos, colocamos em prática um modelo de expansão dos serviços públicos baseado fortemente no capital privado.

Graças a isso, o crescimento sustentável do PIB passou de 2,7% para algo ao redor de 5% ao ano.
Há várias áreas problemáticas da atuação pública que ainda precisam ser azeitadas, algo que demandará bastante tempo. Temos sido incapazes de realizar uma reforma administrativa com letras maiúsculas, e, assim, uma área crítica é a de administração e gestão.
(...)

Só que, de lá para cá, tudo parece mudar no sentido oposto, criando-se rapidamente uma nova percepção desfavorável sobre o Brasil no exterior. As análises sintetizam a deterioração do quadro econômico com a constatação de que, apesar das promessas de algo melhor, o PIB só cresceu 2,7% em 2011 e deve crescer apenas 1% em 2012, longe dos 5% que parecia ser a taxa sustentável.

E, em adição, há cinco trimestres a razão investimento global/PIB só cai, depois de longo período em que subia seguidamente. Em parte, esse desempenho se explica pela desabada da produção (e talvez do investimento) industrial que, desde a rápida recuperação inicial pós-crise, só cai, em que pese medidas de apoio e a desvalorização do real.

Além disso, os resultados fiscais, computados sem manobras contábeis, vêm caindo sistematicamente, embora sem por em risco, ainda, a trajetória declinante da razão entre a dívida pública e o PIB.
(...)

Se voltarmos a querer tocar o Brasil a partir de ideias populistas e estatizantes, que já não deram certo no passado, achando que há espaço fiscal para gastar mais (quando na realidade não há), daremos com os burros n’água.
Perderíamos credibilidade e o atual governo estaria queimando a herança bendita das últimas décadas.

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