domingo, 17 de março de 2013

OS NÚMEROS E OS FATOS

Miriam Leitão, O Globo

A economia brasileira está numa certa encrenca. O Banco Central admite que a inflação está alta e se acomodando num patamar mais elevado, mas demonstra ter limitações para fazer seu trabalho. Os juros foram politizados e a presidente está em campanha para a reeleição. O BNDES tem errado, persistido no erro e mesmo assim está convencido de que está certo.

A ata do Copom tem um parágrafo surrealista. O BC admite que a inflação está espalhada e resistente. Que a dinâmica é desfavorável, que o fenômeno pode não ser temporário e que a inflação pode se acomodar em patamar mais alto. Dito isso, a conclusão só pode ser elevação de juros, a ferramenta que se tem para lutar contra o problema. Mas ele conclui que a política monetária deve ser usada com cautela.

Em outro momento da ata o BC diz que trabalha com a hipótese de R$ 155,9 bilhões de superávit primário este ano e de 3,1% do PIB no ano que vem. Nesse ponto mostra um espantoso alheamento da realidade.

Como todos viram, a Fazenda mudou tanto a fórmula das contas públicas que os indicadores perderam parte da consistência e, além disso, está dando sucessivos sinais de que o superávit primário será reduzido.


O próprio BC fez uma mudança de termômetro desconcertante. Quem for, daqui a alguns anos, ler as atas para alguma tese acadêmica ou à procura de uma série estatística, ficará confuso. Na ata de janeiro, está escrito que a inadimplência total tinha recuado de 5,9% para 5,8% e o calote das pessoas físicas tinha aumentado de 7,8% para 7,9%. Na ata seguinte, de março, milagrosamente a taxa geral ficou estável em 3,7% e a de pessoa física ficou estável em 5,5%.

Como assim a inadimplência caiu tanto de uma reunião para outra? Simples. O termômetro foi alterado. E por uma mera nota publicada pelo BC mudaram-se os critérios. O BC passou a misturar crédito livre, que envolve as operações comuns de mercado, com crédito direcionado, subsidiado pela Caixa, principalmente para financiamento imobiliário e crédito rural. Fez a inadimplência da pessoa física cair de 7,9% para 5,5%. Assim fica fácil.

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