Só não se diga que ela não avisou ou foi incoerente. Na última 
sexta-feira, apenas quatro dias depois de dizer - em um daqueles 
comícios disfarçados de solenidades tão a gosto de seu mentor Lula - que
 em tempos de campanha "podemos fazer o diabo", a presidente Dilma 
Rousseff se permitiu uma dupla diabrura eleitoral. Numa bem produzida 
fala de 11 minutos em cadeia nacional em que apareceu sobriamente 
trajada de cinza, no lugar do costumeiro vermelho-PT, anunciou a isenção
 dos impostos federais que incidem sobre os produtos da cesta básica.
Plagiou, assim, com a maior naturalidade, uma proposta do PSDB, apoiada 
pelo DEM e o PPS, que vetara em setembro do ano passado.
A oposição, por
 sua vez, havia aproveitado uma idêntica iniciativa petista - 
aparentemente desestimulada pelo Planalto -, reproduzindo-a sob a forma 
de uma emenda acoplada a uma medida provisória em tramitação no 
Congresso.
Recorde-se, em primeiro lugar, que a presidente, ao liberar o 
vale-tudo na conquista das urnas, retoricamente fingira preservar disso 
as ações de governo. Segundo a sua argumentação um tanto tortuosa, 
titulares de cargos eletivos, ainda quando adversários, deveriam se 
respeitar, "pois fomos eleitos pelo voto direto". Como se aquelas ações,
 sobretudo numa campanha sucessória desencadeada com extravagante 
antecipação por um sôfrego Lula em favor de sua pupila, já não nascessem
 contaminadas pela gana da reeleição ou, simplesmente, não tivessem sido
 concebidas em razão disso.
"Nunca vi quem está no governo precipitar 
uma eleição", comenta o ex-presidente Fernando Henrique, "já que 
atrapalha a governabilidade."
Atrapalharia, é o caso de atalhar, se a 
governabilidade importasse mais, para a dupla Lula-Dilma, do que o 
crasso cálculo eleitoral.
Para eles tanto faz que "tudo que a presidente
 fizer daqui por diante será atribuído a intenções eleitorais", na 
observação de Fernando Henrique.
A maioria do eleitorado, decerto acreditam, não está "nem aí" para o 
achincalhe da governança - desde que isso a faça sentir-se beneficiada. 
Tampouco sabe, para ficar no exemplo da hora, que poderia estar 
usufruindo da bondade da cesta básica há seis meses, não fosse o veto 
eleitoreiro da presidente petista à emenda da oposição nesse sentido.
(...) 
Se cuidasse dos preços como cuida da 
reeleição, não teria perdido um semestre inteiro para isentar a cesta 
básica - só para não dar o braço a torcer à oposição.
Leia mais no Estadão.
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